22/08/2007

EXPERIÊNCIA - IV

Posted by PicasaBodil Frendberg - Swedish, b.1974

“Tu és em cada gesto todos os teus gestos
E neste momento eu sei eu sinto ao certo o que significam certas palavras como a palavra paz
Deixa-me estar aqui perdoa que o tempo te fique na face na mesma forma de ruga
Perdoa eu revelar que há muito pagas tão alto preço por estar aqui
Prossegue nos gestos não pares procura permanecer sempre presente
Deixa docemente desvanecerem-se um por um os dias
E eu saber que aqui estás de maneira a poder dizer
Sou isto é certo mas sei que tu estás aqui.”

In “Tu estás aqui” – Ruy Belo


Se um dia eu escrevesse um poema simples
ainda denso e cheio de paz
ficaria leve como uma pena ao vento
que volteia dá mil pinos sem partir e na cabeça
criar-se-ia um silêncio raro, crente na exactidão das coisas.
Como os ruídos domésticos fazem o à-vontade
deixaria então partir esta dor no temporal direito
que quase me tolhe o braço
e com o espaço por ela deixado
faria na cabeça um barco enorme e vazio
onde tomando o lugar do tripulante solitário
rumaria em direcção àquela cova aberta à mão
que serviu de coberta à longa tarde dos quentes dias
no tempo do alento que aos poucos se apaga
e às vezes dá de caras com o preto da descrença.
Se do que fazemos nada sobrar além do que fazemos
se nada sobrar do diverso coro das nossas vozes e do falsete
do cantar grosso das canções que entoas que nunca
o esquecimento se arvore em estafeta entre uma e outra das nossas bocas.

28/1/1981

[Este é o poema original que deu origem a dois outros, um deles, sob o título “Sós” – publicado no livro “Ir Pela Sua Mão”, e o outro, se bem me lembro, publicado no Absorto. Foi escrito a lápis e o manuscrito apresenta poucas emendas.]

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