04/04/2009

90 ANOS

A aragem não enganava o lugar dela
nem o seu sopro poupava os corpos
correndo suave um hálito escaldante

e até a sombra das árvores mudaram
o tom da frescura conforme o género
da folhagem e a formatura das copas,

Caminhamos desde o fim dos tempos
pelos mesmos caminhos de pé posto
em que se levantam em pó os passos

e tudo mudou no lugar do seu berço
mas nada nas árvores mudou presas
nas terras revoltas a golpes de vento,

Nada mudou no olhar azul do homem
feito nas colheitas de todos os frutos
nem a nostalgia das perdas do tempo

cujo desenho do rosto perdura no viço
dos moços pequenos sentados à parte
perdidos de se largarem às suas artes,

Os adultos alinhados à mesa lembram
o relincho da charrua puxada a mãos
e rodas de canções cantadas em coro

na aragem que não mudou o seu visco
e nada mudou no lugar do nascimento
da vida que agora ressurge celebrada,

Ventura marcou o lugar no seu tempo
entoando vigoroso uma canção à terra
sagrada da pertença de todos os sonhos

noventa anos cantados a solo ali dentro
de nós com os antepassados sorridentes
olhos agradecidos à sua esperança feliz.

Santo Estevão e Lisboa, Julho de 2003

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