24/11/2009
Talvez aqui não esteja presente
Jessica Todd Harper
Talvez aqui não esteja presente
Para ouvir o teu vozear eufórico
Num dia qualquer de felicidade
Que te invade por um pequeno
Detalhe que não sei identificar
Lá ao longe fica a memória fria
E o vazio de um esquecimento
Que antevemos nos olhos crus
Dos amantes que abandonamos
Ao largo sem um adeus sequer
Um dia quando tu regressares
Talvez aqui não esteja presente
6/10/2009
23/11/2009
EXERCÍCIO
Fotografia daqui
O ritmo que se esconde por entre
A palavra escrita, um espaço livre
No silêncio que se respira ardente
O silvo que, de súbito, surpreende
16/11/2009
O POEMA QUE TE MANDEI
06/11/2009
AS EVIDÊNCIAS - XXI
Este é o último soneto de "As Evidências” [1955]. Nos “Diários” de Jorge de Sena, livro publicado por Mécia, surgem referências explícitas ao estado de espírito do autor aquando da escrita dos últimos sonetos datadas de 17 de Abril de 1954.
“Dias de abatimento incrível, ao fim dos quais lutei com os sonetos dos deuses. Repentinamente, ontem surgiu o soneto do mal. E, hoje, suave e sem rima, completei, ou antes, escrevi todo, o soneto dos deuses (XIX). (…) Mas o que eu tenho sofrido vivendo, para depois me “purgar” no sofrimento de escrever abstracto, essencial, de uma vez para sempre!
Chegando a casa, li à Mécia o soneto. Depois, fui copiá-lo para o escritório. Foi escurecendo. E, de súbito, num transe medonho que não me permitiu acender a luz, saiu inteiro o que suponho ser o último soneto da série.”
XXI
Cendrada luz enegrecendo o dia,
tão pálida nos longes dos telhados!
Para escrever mal vejo, e todavia
a dor libérrima que a mão me guia
essa me vê, conforta meus cuidados.
Ao fim terrível que me espera extenso,
nenhum conforto poderei pedir.
Da liberdade o desdobrado lenço
meu rosto cobrirá. Nem sei se penso
ou pensarei quando de mim fugir.
Perdem-se as letras. Noite, meu amor,
ó minha vida, eu nunca disse nada.
Por nós, por ti, por mim, falou a dor.
E a dor é evidente – libertada.
16-4-1954
Jorge de Sena
AS EVIDÊNCIAS - XX
Douglas Prince
XX
Erguem-se as tríades: são mais que deuses,
e menos que verdade de os haver.
De Deus a dupla face em face à vida
é só por elas que a evitamos ser,
quando a não vemos senão dupla, triste
daquele humano gesto de que existe
a sempre imagem trina de O perder,
cindido o amor, no espelho reflectida.
E ao espelho se engrisalham os cabelos
e as rugas cavam-se das eras idas
sobre a vidraça como gotas de água.
Ouvem-se os ecos de outros ecos belos.
E Deus, reflexo silencioso, os deuses
guardam liberto de ser dupla mágoa.
28-4-1954 [curiosamente no dia do meu aniversário.]
Jorge de Sena
XX
Erguem-se as tríades: são mais que deuses,
e menos que verdade de os haver.
De Deus a dupla face em face à vida
é só por elas que a evitamos ser,
quando a não vemos senão dupla, triste
daquele humano gesto de que existe
a sempre imagem trina de O perder,
cindido o amor, no espelho reflectida.
E ao espelho se engrisalham os cabelos
e as rugas cavam-se das eras idas
sobre a vidraça como gotas de água.
Ouvem-se os ecos de outros ecos belos.
E Deus, reflexo silencioso, os deuses
guardam liberto de ser dupla mágoa.
28-4-1954 [curiosamente no dia do meu aniversário.]
Jorge de Sena
02/11/2009
A JORGE DE SENA (no dia do seu 90º aniversário.)
Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. É hoje considerado um dos grandes poetas de língua portuguesa e uma das figuras centrais da cultura do nosso século XX.
XIX
Perdidas uma a uma as coisas todas,
os corpos a as estrelas, flores e rios
na construção do espírito sonhado,
humanamente vos haveis unido,
para de além de tudo ainda regerdes
apenas pó a ser cindido um dia,
que o que ficava, dissoluto o mundo,
a morte humana assim éreis num só,
ó deuses, formas de existir, presença,
tão sempre jovens e dourados mortos
de morte que é sol-posto ou madrugada,
ó deuses do universo! – a tarde cai,
e, em vagas vozes de crianças rindo,
cindido tudo, ó deuses, regressai.
16-4-1954
Jorge de Sena
01/11/2009
AS EVIDÊNCIAS - XVIII
XVIII
Deixai que a vida sobre nós repouse
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse
.
erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.
.
Deixai-a ser a que se não revela
senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.
.
Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,
.
a que é do tempo a ideia da formosura,
a que se encontra se se não procura.
26-3-1954
Jorge de Sena
Deixai que a vida sobre nós repouse
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse
.
erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.
.
Deixai-a ser a que se não revela
senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.
.
Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,
.
a que é do tempo a ideia da formosura,
a que se encontra se se não procura.
26-3-1954
Jorge de Sena
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