08/08/2008

RUY BELO (pelo 30º aniversário da sua morte)


(…)

quando não só as salas mas as vidas não ficavam
de repente vazias de convivas

que temiam olhar uns para os outros e medir nesse olhar as dimensões da solidão
e só sentiam como algum remédio para a solidão
abrir as salas aos nocturnos bois dos campos circundantes
quando de repente os dias começavam a correr
na indisciplinada vibração do perigo
ou se não demoravam na hábil e discreta
sondagem dos melhores movimentos dos antigos povos
quando pelos jardins passavam as hirtas e rígidas escravas
quebradas na cintura pelos seus cintos de seda
e era bem mais fácil manter o equilíbrio estival da humidade dos pés
quando os homens se compraziam a falar do vento
a propósito do movimento vivo ou lento dos canaviais
a associar tempo e vento para decretar
que coisas idas com o vento não regressam mais

(…)

Rotomando A Margem da Alegria [11] no dia do 30º aniversário da sua morte

Sem comentários: