26/09/2008

ESCREVO

Escrevo no plano inclinado que separa

Todas as dúvidas das minhas certezas

Dividido entre a raiva e o medo certo

E incerto, oblíquo ao olhar as belezas

Do mundo às vezes de mim tão perto

12/5/2008

21/09/2008

É NOITE

É noite não sei se escura lá fora
Embora a noite clara escureça
Por vezes dentro de mim, a luz
Que bruxuleia e ilumina assim
Se torna na força que na hora
Exacta é vida que vive em mim

28/6/2008

18/09/2008

OS NOSSOS ROSTOS

Uma luz acende-se na ponta das palavras
Os nossos rostos iluminam-se de sombras

29/8/2008

14/09/2008

QUE MAIS DESEJAR DO MUNDO?

Se os dentes cravo no fruto

E o sabor se entranha sinto

Do prazer os primórdios

E já é ficar a saber muito


Se o corpo enterro no mar

E sinto o frio se entranhar nele

Já sei do prazer o suficiente

Para o mar desejar sempre


Se o mar se espraia ardente

Nas areias finas que gerou

E me abraça assim quente

Que mais desejar do mundo?


Faro, Agosto de 2008

12/09/2008

APÓS MUITOS DIAS


Após muitos dias de jejum

soltam-se umas palavras

alinhadas ao som da ponta

larga e romba do lápis

que surgindo do nada

me trazem de volta

ao prazer da escrita

Faro, Agosto de 2008

09/09/2008

ENCONTRO

Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)

No espaço da celebração

dos antepassados

vagueiam meus passos

na busca humilde

da sombra.


Deslizam as silhuetas

no largo da igreja

rostos frios

na hora do encontro

com a morte.

Faro, Agosto de 2008

06/09/2008

UM PEQUENO POEMA

Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)

Um pequeno poema
luxuriante.

Um ponto de luz
Incandescente.

É o silêncio ao fundo
da palavra
que não mente.

Faro, Agosto de 2008

05/09/2008

UM DIA

Pelo aniversário de meu pai

Um dia tal como tu sairei

Do lugar onde me sentes

A teu lado algures por aí

Talvez nos encontremos

Se tiver tempo aviso cedo

Na verdade nunca deixei

De te ver dentro de mim

4 de Setembro de 2008

03/09/2008

Contradictio

Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)

Não me interessa o jogo

puro das palavras

deslizando

no papel branco da folha

que recorto e sujo

com a leveza da pena

que uso.

Não escrevo como quem bebe

um licor e se inebria

mas inebria-me a corrente

das palavras que escrevo.

Faro, Agosto de 2008

02/09/2008

A TERRA

A terra eu sei o que é,

a ruga funda cavada no rosto

eu sei o que é, o mundo

do arado que desbrava o rego

e fende a raiz da semente

eu sei o que é, a levada

de água pura que levanta

a seiva de onde nasce o fruto

eu sei o que é, a terra

que esconde o mistério

da morte eu sei o que é,

a terra ganha sempre

Faro, Agosto de 2008