31/05/2009

NÃO SEI


O que posso escrever que me liberte
Me faça sentir livre de meus temores
O que escreverei a mais ou a menos
Além do que escrevi no tempo certo
Não sei. O que sei é de meus amores.

31/5/2009

CAQUIS CAÍDOS

24/05/2009

UM DIÁLOGO SINGULAR

Fotografia de Hélder Gonçalves
para o meu filho Manuel

O que vejo no espaço que separa
a tua imagem de mim é o tempo
que poliu a delicadeza do mundo
da fala e sempre me surpreende
como um gesto que se prendeu
ao desejo de descobrir o sentido
do outro de encontro ao silêncio
sem corpo, sem voz, sem nada.

Lisboa, 27 de Fevereiro de 2009

17/05/2009

Homenagem a Joaquim Agostinho no dia da sua morte


De repente damo-nos conta de que país é este, pequeno pobre e triste país. O sul fica a milhares de kilómetros do centro, o norte toca no pólo, as fronteiras alargam-se de ponta a ponta do universo. Um deserto com gente de sentimentos, esquimós e ursos, um requinte de civilização universal, modelo último que todos procuram seguir. Gente atenta e versátil olhando a comunidade e honrando as responsabilidades e os deveres. Para quê tarefas e lugares definidos? A todos a sua opinião! Para quê iniciativas e esforços abnegados? Todos temos projectos sem fim, grandiosos e bem sucedidos! Tudo marcha à medida da nossa grandeza! Para quê heróis e mitos ou gerações triunfantes? Todos somos candidatos a heróis e todas as gerações tiveram os seus dias de glória! Preservar as riquezas para quê? Só há um tipo de riqueza: a nossa própria. Um só tipo de liberdade: a de lhe fazermos o que nos apetecer de preferência não a gozar nem deixar que o país dela goze. Empresários somos dos nossos próprios detritos. Libertadores somos das nossas responsabilidades. Deixemos morrer os heróis às suas mãos! O país morrerá com eles na incúria dos seus gestos envergonhados que se crispam de espanto a cada nova perda. Um país que morre em paz. Um coma profundo de que poucos se dão conta. Um horizonte de desesperança sem fim. Deixem-no morrer em paz. Ele se fez a si próprio. Atravessou gerações sempre no topo. Conquistou admirações em todo o lugar que regou com o seu suor. Fez-nos sonhar e nada lhe podemos dar agora. Oito horas são muito tempo. De quem é a culpa? De todos e de ninguém!
(In "Ir pela sua mão" - Editora Ausência - 2003)

13/05/2009

PALAVRAS COM ÂNGULOS


Palavras com ângulos e esquinas, falas e risos
Desprendidas das paredes da memória antiga
Sou eu que voo por entre a folhagem de vozes
Suaves ou pontiagudas segredadas ao ouvido,
Sou eu que faço a massa que junta as palavras
Quando me assalta o desejo fatal de escrever

E dolentes se estendem ao longo dos tempos
Desprendidas ressoando o céu da minha vida
Sou eu que olho a paisagem natural alinhada
Na fronteira das palavras com o clamor delas
E me aventuro entre os rumores que afligem
Os crentes estendendo-lhes uma mão amiga

6/2/2009

07/05/2009

VIII CICLO DE MÚSICA E POESIA PORTUGUESA DO SÉC. XX - POESIA DE JORGE DE SENA -

Por ser um acontecimento raro no nosso panorama cultural divulgo o Programa da componente da Poesia de Jorge de Sena do “VIII Ciclo de Música e Poesia Portuguesa do Séc. XX – Poesia de Jorge de Sena - ”, organizado pela Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, a realizar nos dias 12, 14, 19 e 21 de Maio de 2009, no Palácio Fronteira:

12 de Maio (3ª feira)

21h30 - RECITAL DE POESIA DE JORGE DE SENA – POESIA E ARTES VISUAIS

Apresentação e comentários: Fernando J. B. Martinho
Leitura: Antónia Brandão, Fernando Mascarenhas e Maria Adelaide Hidalgo.


14 de Maio (5ª feira)

21h30 - RECITAL DE POESIA DE JORGE DE SENA – ESCRITA POÉTICA E VISÃO DO MUNDO EM JORGE DE SENA

Apresentação e Comentários: Gastão Cruz
Leitura: José Manuel Mendes.


19 de Maio (3ª feira)

21h30 - RECITAL DE POESIA DE JORGE DE SENA – SENA, A POESIA E OS LUGARES

Apresentação e Comentários: Margarida Braga Neves
Leitura: Antónia Brandão, Fernando Mascarenhas, Maria Adelaide Hidalgo e Paulo Godinho.


21 de Maio (5ª feira)

21h30 - RECITAL DE POESIA DE JORGE DE SENA – POESIA POLÍTICA

Apresentação e Comentários: Gilda Santos
Leitura: Antónia Brandão, Fernando Mascarenhas, Maria Adelaide Hidalgo e Paulo Godinho.

- Recitais de Poesia - Entrada Livre

Local: Palácio Fronteira, Largo São Domingos de Benfica nº 1 - 1500-554 Lisboa.
Informações e inscrições: 217784599 ou fcfa-cultura@netcabo.pt.
Site: https://webmail.netcabo.pt/exchweb/bin/redir.asp?URL=http://www.fronteira-alorna.pt

03/05/2009

ANTICONSUMO


Como vai longe o dia, Maninho,
em que a gente podia ser comum

Entre ervas burras, folhas molhadas de mamona
e salsa
a gente podia ser
simplesmente
nossas mãos nossos pés nossos cabelos
e o que queimava dentro
no escuro

Como vai longe o tempo como as águas
batendo na amurada
alegremente
como os peixes
vivendo no seu músculo
o mistério do mundo

Ferreira Gullar [Toda poesia /Dentro da noite veloz]

02/05/2009

Já nada me impede


Já nada me impede
de nada e contudo
o pudor, ah o pudor
tão alto se levanta
e me detém sempre
de quase tudo dizer
livre que é afinal não
ser tudo parecendo

Faro, Agosto de 2008