28/05/2010

Novembro


Novembro meu coração voa baixo agora
O cansaço espera o regresso impossível
Ao espaço sideral onde não se joga nada
As emoções mortas flutuam em sonhos
Ao canto mais fundo de mim já recolhido
À saudade de um olhar cúmplice, desejo
Perdido na face rubra pedindo um beijo.

10/11/2008

25/05/2010

DOEM-ME OS OLHOS DE OLHAR


Doem-me os olhos de olhar
Para dentro
Do tempo que me possui
Escorrendo
Ao longo do meu passado
Sempre
Presente sempre afastado

3/11/2008

22/05/2010

Em busca

































Em busca da fonte do meu cansaço
Encontro o lugar de velhos encontros
O desejo de saciar a sede de viver
Encontro os braços que me enlaçam
Com o vigor do último abraço
O primeiro dia de todos os dias
No corpo tornado uma concha
Apertado no meu com um laço
Que me desaperta a sede e bebo
O liquido com que o desfaço

9/9/2008

20/05/2010

POEMA DE ONTEM


Albert Lemoine

O tamanho de uma palavra perdida
No tempo ecoa por entre imagens
Coloridas e cheiros agridoces mãos
Estendidas ao sol carícias e medos
Desenhados na curva do olhar baço


O tamanho do silêncio erguido ali
Caminhando a meu lado atormenta
O sol que ilumina a minha alma
Enchendo de penumbra o espaço
Livre que procuro entre paredes.

1/7/2008

16/05/2010

SEM TÍTULO


Fotografia de Hélder Gonçalves

Construir a
partir do nada
o vazio que se possui
às portas do desejo

Ouvir o coração ao longe
outro que me veja
sinto-o mas não revelo
o lábio húmido que me beija

s/data – 2007

10/05/2010

A CARNE DA TERRA JAZ POR ENTRE OS DESTROÇOS


A carne da terra jaz por entre os destroços
De que reconheço o lugar e apodrece,
Conheço o lugar onde está depositada
Por entre ervas e flores que renascem,
A carne da minha carne que apodrece
Por entre a natureza que renasce sem nada,
Pois já não é olhada pelos mesmos olhos
Que a olhavam como se olha o que apetece,
A carne morreu e com ela a beleza do lugar
Onde aprendi as cores verdadeiras da natureza

[3/3/2008]

05/05/2010

LIBERDADE


Nos meus cadernos de escola

no banco dela e nas árvores

e na areia e na neve

escrevo o teu nome


Em todas as folhas lidas

nas folhas todas em branco

pedra sangue papel cinza

escrevo o teu nome


Nas imagens todas de ouro

e nas armas dos guerreiros

nas coroas dos monarcas

escrevo o teu nome


Nas selvas e nos desertos

nos ninhos e nas giestas

no eco da minha infância

escrevo o teu nome


Nas maravilhas das noites

no pão branco das manhãs

nas estações namoradas

escrevo o teu nome


Nos meus farrapos de azul

no charco sol bolorento

no lago da lua viva

escrevo o teu nome


Nos campos e no horizonte

nas asas dos passarinhos

e no moinho das sombras

escrevo o teu nome


No bafejar das auroras

no oceano dos navios

e na montanha demente

escrevo o teu nome


Na espuma fina das nuvens

no suor do temporal

na chuva espessa apagada

escrevo o teu nome


Nas formas mais cintilantes

nos sinos todos das cores

na verdade do que é físico

escrevo o teu nome


Nos caminhos despertados

nas estradas desdobradas

nas praças que se transbordam

escrevo o teu nome


No candeeiro que se acende

no candeeiro que se apaga

nas minhas casas bem juntas

escrevo o teu nome


No fruto cortado em dois

do meu espelho e do meu quarto

na cama concha vazia

escrevo o teu nome


No meu cão guloso e terno

nas suas orelhas tesas

na sua pata desastrada

escrevo o teu nome


No trampolim desta porta

nos objectos familiares

na onda do lume bento

escrevo o teu nome


Na carne toda rendida

na fronte dos meus amigos

em cada mão que se estende

escrevo o teu nome


Na vidraça das surpresas

nos lábios todos atentos

muito acima do silêncio

escrevo o teu nome


Nos refúgios destruídos

nos meus faróis arruinados

nas paredes do meu tédio

escrevo o teu nome


Na ausência sem desejos

na desnuda solidão

nos degraus mesmos da morte

escrevo o teu nome


Na saúde rediviva

aos riscos desaparecidos

no esperar sem saudade

escrevo o teu nome


Pelo poder duma palavra

recomeço a minha vida

nasci para conhecer-te

nomear-te

liberdade.

paul eluard

Tradução de Jorge de Sena