29/01/2009

O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas

“O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas.”

“L´air est peuplé d´oiseaux cruels et redoutables. »*


As aves volteiam em torno de nossas cabeças:
o espaço está cheio de aves cruéis e perigosas.


* Citação de 1938, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 2 (Setembro de 1937 – Abril de 1939) - página 87, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier II (Septembre 1937 – avril 1939) – página 858, Oeuvres complètes – II.

25/01/2009

A tentação comum de todas as inteligências: o cinismo.

“A tentação comum de todas as inteligências: o cinismo.”

“La tentation commune à toutes les intelligences: le cynisme.” *



Do outro lado de um coração que pensa

insidiosa

a tirania elogia o caos à beira do abismo

e conclama

a tentação comum de todas as inteligências:

o cinismo.


* Citação de 1938, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 2 (Setembro de 1937 – Abril de 1939) - página 85, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier II (Septembre 1937 – avril 1939) – página 855, Oeuvres complètes – II.

23/01/2009

Primeiros dias de calor. Sufocante.

“Abril.
Primeiros dias de calor. Sufocante. Todos os animais estão deitados. Quando o dia começa a declinar, a natureza estranha da atmosfera por cima da cidade. Os ruídos que nela se elevam e se perdem como balões. Imobilidade das árvores e dos homens. Pelas esplanadas, mouros de conversa à espera que venha a noite. Café torrado, cujo aroma também se eleva. Hora suave e desesperada. Nada para abraçar. Nada onde ajoelhar, louco de reconhecimento." [Nesta página da edição portuguesa dos "Livros do Brasil" escrevi, à mão, em frente a Abril: “3-1968-Faro-Cais”, datando, com precisão, a primeira leitura. O ambiente da Argélia natal de Camus tem algo a ver com o ambiente de Faro, a minha cidade natal. Devia ser o período das Férias de Páscoa. Curiosamente nas vésperas do “Maio de 68”.]


“Avril.
Premières journées de chaleur. Étouffant. Toutes les bêtes sont sur le flanc. Quand la journée décline, la qualité étrange de l´air au-dessus de la ville. Les bruits qui montent et s´y perdent comme des ballons. Immobilité des arbres et des hommes. Sur les terrasses, mauresques qui divisent en attendant le soir. Café qu´on grilles et dont l´odeur monte aussi. Heure tendre et désespérée. Rien à embrasser. Rien où se jeter à genoux, éperdu de reconnaissance.” *

* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 25, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.

Na primeira lufada de ar quente me surgiste

e senti o calor dos primeiros dias de verão,

sufocante fulgor das arremetidas da tua voz

insinuante aberta até ao queixo do enigma

de saber que te quero possuir mas não sei.


Ajuda-me a possuir-te mesmo que eu não

queira e te deites mal amada pois eu quero

e desespero perdido por querer que saibas

do meu desejo sincero e louco em possuir-te

nos primeiros dias de calor. Sufocante.

21/01/2009

A AMIZADE SUAVE E DISCRETA DAS MULHERES

“31 de Março.
Tenho a sensação de emergir pouco a pouco.
A amizade suave e discreta das mulheres.”

“31 mars.
Il me semble que j´émerge peu à peu.
L´amitié douce et retenue des femmes. »*


Sei do teu prazer em desejar a amizade

suave, à distância e dela te bastares sem

dizer nada, discreta a arte de ser mulher.


* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 24, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.

17/01/2009

A MINHA ALEGRIA NÃO TEM FIM

“Março.
A minha alegria não tem fim.”

“Mars.
Ma joie n´a pas de fin.”*



A minha alegria não tem fim

na calma terna que se espraia


margem de ternura solidária

na cidade iluminada a alecrim


a minha alegria não tem fim

na vereda deserta e silenciada


seduzindo a ruína despojada

dos teus lábios rosa em mim


a minha alegria não tem fim

cidade de teu corpo povoada.


* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 22, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 804, Oeuvres complètes – II.

Publicação dos poemas insertos no livro (micro edição): “Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.” Ilustrados com desenhos de meu filho Manuel pelos seus dez anos. Acrescenta-se a epígrafe na língua original e uma nota com a indicação das fontes bibliográficas.

13/01/2009

AO CAIR DO DIA

Ao cair do dia a luz adormece
e se torna clara,

O dia, em silêncio, anoitece
na madrugada,

É a esperança
de um novo dia que acontece,

27/11/2008