11/06/2007

POESIA EM DIA

[Auto-retrato]

É arriscado escrever para o ar, ser observado
não poder ripostar ao silêncio dos cargueiros
a deslizar do outro lado, lentamente devagar
como se nos quisessem brindar com uma tela
na qual os traços são afinal o real imaginado

a melodia baila e eles não sabem que o sonho

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É arriscado escrever e nos lermos mais tarde
as linhas atribuladas nas curvas da memória
dúvidas desalinhos pressas e frases montadas
em cima dos caminhos nunca antes trilhados
como o regresso ao saguão das águas furtadas

o verso brilha tal qual o brilho que lhe ponho

……………………….

É arriscado todo o gesto que muda o sentido
aos ponteiros do relógio e escrever ao invés
como fiz no outro dia aid ortuo on zif omoC
alcançar a simetria e deixar correr a fantasia
que se evapora e corre corre o tempo da vida

como nas mãos da criança uma bola colorida

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(2006)

[A pensar em António Gedeão, um dos maiores poetas da língua portuguesa, no centenário do seu nascimento, cuja ascendência, por curiosidade, é originária do Algarve e, na maioria, da minha terra – Faro.]
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