27/12/2007

"PASSANDO ONDE HAJA TÚMULOS..."


Passando onde haja túmulos
- e há pó de humanos sempre onde se passe –
quanta maldade jaz ali dispersa
pronta a ser respirada por outros homens
qua a têm na carne como herança dela:
quanta traição mesquinha range os dentes
e faz as suas contas de futuro:
quanta vileza ainda se espoja em raiva
de não ter sido uma vileza inteira.
E é isto a humanidade.

Mas entre o pó das serras e dos montes
de campos e desertos e florestas,
ou nesse pó que como manto fluido
pousou gelatinoso na mais funda treva
do mar profundo – quanto sonho jaz
de uma grandeza sempre massacrada
traída e condenada por aqueles
que são a humaniddae.

Não foram nunca as circunstâncias nem a história
nem o destino nem a providência
quem matou a grandeza em qualquer coisa
império ou obra ou simples gesto vivo
de ser-se por instantes feliz.
Mas sempre o assassino que se esconde
na outra humanidade.

Passamos entre o pó de assassinados
e o de assassinos. E seremos pó
como eles são. Impunes estes sempre,
inconsolados ainda e sempre aqueles.
Nenhuma paz nos paga da maldade.

27/5/1971
.
[In “Poesia III” – “Exorcismos - 1972” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (30).]

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