06/04/2008

JORGE DE SENA - RELÂMPAGO


Alguns sublinhados da leitura da Revista Relâmpago – nº 21, dedicada a Jorge de Sena. Incidem sobre os dois primeiros ensaios nela presentes de autoria de Fernando Pinto do Amaral e de Gastão Cruz.

“Muitos dos melhores poemas de Jorge de Sena consistem precisamente em longas e dialécticas meditações sobre a passagem do tempo e os vestígios que deixa à superfície das coisas.”

“Mas o que a poesia de Sena consegue dizer-nos como nenhuma outra é, acima de tudo, o absurdo da morte, o seu escândalo especificamente humano quando comparado com os ciclos que regem a natureza, já que é a consciência da morte a negar aos homens a sua condição de seres naturais como os outros, a retirar-lhes toda a naturalidade e a torná-los as trágicas vítimas de uma perplexidade sem saída:

De morte natural nunca ninguém morreu/ […] / Não foi para morrer que nós sonhámos/ ser imortais, ter alma, reviver/ ou que sonhámos deuses que por nós/ fossem mais imortais que sonharíamos. / […] // A morte é natural na natureza. Mas/ nós somos o que nega a natureza “

[Fernando Pinto do Amaral, “Uma pequena luz” no meio da treva – Imagens da melancolia na poesia de Jorge de Sena.]

“Jorge de Sena que, de alguma forma, quisera ser surrealista* e continuou, ao longo da vida, a afirmar que a sua obra se antecipara à instauração do surrealismo em Portugal, como movimento, manteve acerca da poesia um conceito eminentemente experimental – e nisso estava perfeitamente integrado no processo em curso nas renovadoras décadas de 50 e 60. “

“Vemos que o conceito de moderno de Jorge de Sena é abrangente e nada tem a ver com as habituais estreitas concepções de “modernismo” e de “modernismos” defendidas por muitos dos nossos críticos mais recentes. Se quisermos utilizar o termo “modernismo” com propriedade, teremos de considerar que modernismo só houve o primeiro (e único), e que não faz nenhum sentido falar da existência de um segundo e um terceiro, ou quantos o delírio do crítico queira inventar.”

*A nota remete para um depoimento de Luís Amaro que relata: “Lembro-me de, provavelmente, no seu primeiro retorno a Lisboa (1969), lhe ter falado nisso, e, a propósito da fase inicial da sua obra, jamais renegada aliás, ele (Sena) me responder tolerante. “Não me admira que você não compreendesse. Eu queria ser surrealista … “

[Gastão Cruz, Jorge de Sena na poesia do seu tempo ou “a arte de ser moderno em Portugal”.

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