entre eles. Não os mais pequenos só
mas os maiores também e conversando
com os mais pequenos. Não nasceram cá,
todos cresceram tendo nos ouvidos
o português. Mas em inglês conversam,
não apenas serão americanos: dissolveram-se,
dissolvem-se num mar que não é deles.
Venham falar-me dos mistérios da poesia,
das tradições de uma linguagem, de uma raça,
daquilo que se não diz com menos que a experiência
de um povo e de uma língua. Bestas.
As línguas, que duram séculos e mesmo sobrevivem
esquecidas noutras, morrem todos os dias
na gaguês daqueles que as herdaram:
e são tão imortais que meia dúzia de anos
as suprime da boca dissolvida
ao peso de outra raça, outra cultura.
Tão metafísicas, tão intraduzíveis,
que se derretem assim, não nos altos céus,
mas na merda quotidiana de outras.
Caliban, 3/4, 1972
Jorge de Sena.
.
[In “Poesia III” – “Exorcismos - 1972” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (31). Este poema foi postado no absorto em 16/11/2004 a partir de uma edição que o data de 1972. Na edição que li em Cuba o poema é datado de Outubro de 70 e apresenta duas diferenças face a este que reproduzo daquela primeira postagem: gaguez em lugar de gaguês, caca em lugar de merda. Interessante!]
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