“NUNCA NINGUÉM AO CERTO NOS CONHECE”
Nunca ninguém ao certo nos conhece.
Quem bem repara menos vê ou vê
mais e melhor o quanto reparou.
Por isso, anos passados, recordando,
folheando as folhas para tal guardadas,
olhando uns vãos desenhos em que há sempre
sebentas, livros, um amor sabido,
e lendo versos, em que há sempre livros,
o mesmo amor, sebentas, e talvez
alguma graça já sem graça alguma,
tão docemente o recordar se aviva,
que não distingue … outros recorda … esquece.
E como reparar-se em quem não pára?
Em quem do Porto a Coimbra se prepara
para a viagem de Coimbra ao Porto?
Em quem trabalha e estuda em correria
sem ter tempo a perder na Academia?
E pois que da amizade nestes livros
só ficará quanta morrer na vida,
folheai, lembrai, guardai nos papéis velhos,
que o resto, o mais, o que afinal é tudo,
aqui não está – ou, estando, não é vosso.
6/2/48
alguma graça já sem graça alguma,
tão docemente o recordar se aviva,
que não distingue … outros recorda … esquece.
E como reparar-se em quem não pára?
Em quem do Porto a Coimbra se prepara
para a viagem de Coimbra ao Porto?
Em quem trabalha e estuda em correria
sem ter tempo a perder na Academia?
E pois que da amizade nestes livros
só ficará quanta morrer na vida,
folheai, lembrai, guardai nos papéis velhos,
que o resto, o mais, o que afinal é tudo,
aqui não está – ou, estando, não é vosso.
6/2/48
Jorge de Sena
In TEMPO DE PEDRA FILOSOFAL (1945-1950)
40 ANOS DE SERVIDÃO (Círculo de Poesia – Moraes Editores)
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