21/12/2008

“Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.”

Esta é a capa do livro que adoptou o título do último dos 18 poemas de que é portador. Esse poema está aqui. Para que se entenda melhor a génese do livro, e o contexto da sua publicação, transcrevo a Nota Introdutória que, sinceramente, tenho dúvidas se deveria ter sido nele incluída.

BREVE NOTA INTRODUTÓRIA

Ao meu filho Manuel Maria pelos seus 18 anos

Este livro surge fora do mercado editorial porque, na verdade, em Portugal, não há um verdadeiro mercado editorial de poesia. Mais vale, neste estranho vazio, em que o favor devora a apreciação do mérito, sem querer atribuir-me mérito algum, editar para os amigos de todas as horas, cúmplices de todas as lides, famílias de todas as estirpes, do que perder tempo, verbo e cabedal, em aventuras editoriais que, de ciência certa, é sabido estarem votadas ao fracasso.

Esta iniciativa editorial, de raiz artesanal, pretende situar-se, assumidamente, no terreno dos afectos e da reflexão, à margem do mercado, associando a empresa da escrita ao desenho gráfico, buscando uma forma susceptível de alcandorar o livro à categoria de objecto capaz de despertar o prazer da leitura forjando um pequeníssimo grão de liberdade de que cada um se apropriará como lhe aprouver. É assim que entendo o papel da comunicação pela arte.

Este livro é um exercício tardio inspirado na leitura de juventude, que me tem acompanhado a vida toda, dos “Cadernos” de Albert Camus, nos quais o autor de “O Estrangeiro”, revela a faceta fragmentária da sua escrita constituindo-se como um verdadeiro blogue “avant la lettre”.

A única explicação possível para o meu interesse, precoce, por Albert Camus reside no facto de, eu próprio, nunca ter frequentado os meios intelectuais tradicionais fazendo um caminho solitário na aprendizagem da importância da arte, situando-me sempre mais próximo da rebeldia, face às escolas de pensamento dominantes, do que da assumpção dos princípios de qualquer uma delas.

Parti, pelos meus 20 anos, dos “Cadernos” para, ao longo das últimas quatro décadas, me embrenhar na leitura de boa parte da obra de Camus, tarefa assumida como leitor interessado, quiçá apaixonado, e não mais do que isso. Foi a partir dessa condição de leitor que me aventurei nesta experiência poética.

Neste livro reúnem-se dezoito poemas, escritos em 2003, que, desde sempre, intitulei de “Glosas Imperfeitas”, mas que, finalmente, para evitar mal entendidos, rebaptizei com o título do último poema: “Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.”

Quase todos os poemas foram escritos a partir de frases sublinhadas, a traço grosso, aquando da primeira leitura dos “Cadernos”, e são ilustrados, nesta micro edição, por desenhos gráficos, realizados em computador, pelo meu filho Manuel Maria ainda enquanto criança.

Nesta empresa íntima acompanha-me a música, por vezes agreste, da poesia de Jorge de Sena sobreposta à irradiante luminosidade das paisagens do mediterrâneo que povoam o imaginário de Albert Camus e que tanto influenciaram a sua escrita.

A cumplicidade generosa, e o talento da Isabel Espinheira, cozem o corpo ao espírito desta edição que é dirigida aos interstícios onde se encontram os únicos leitores que me interessa surpreender: os que acariciam um livro por prazer e dispõem da liberdade de o ler sem ser por dever,

Lisboa, Outubro de 2008

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