10/07/2010

ESPERO


O cais está deserto. Após uma noite agitada as águas do rio batidas pelo
vento
salpicam o cenário inventado para o difícil encontro a sós que não foi
mais
que o pretexto para te ver fugazmente e sentir o sorriso que a teus lábios
aflora
quando me olhas desde o primeiro dia que me viste e neles notei o leve
entreabrir
da tua pele ao contacto do meu desejo e te toquei incendiando o meu
olhar
ao encontro do teu olhar e nele vi a réplica do beijo que  nunca se 
consumou.
Mais nada do que um adeus? Ou assim como um jogo de adiar a espera
do dia
em que num lugar mágico como no Amarcord de Felini nos abracemos e
nossos
corpos se toquem e eu grite, não me interessa o silêncio que vai tingir de
rubor
o teu rosto, sentindo tua língua a falar na minha boca no momento
fugaz do beijo
que se toma de um trago como o gin ou o fumo das cigarrilhas que
o vento fumou.

Espero
sem desesperar de te sentir desejar-me ou ao menos desejares que eu te
deseje
assim intensamente como quando respondes aos meus apelos e eu me
encho
de esperança ou quando decides esquecer um encontro por não te
apetecer sorrir
com o sorriso de te fazeres sentir agradável, insinuante e virgem como
eu gosto
de me sentir desejado, em eterno falso climax, beijando-te a face no
beijo da despedida
os meus lábios sorvendo o sabor doce de ti através da tua pele
maquilhada arrependido
de não ter jogado no teu corpo o jogo do sexo que tu adias para tornar
mais intensa
a consumação do meu desejo que por gozo invento e tu subtilmente
sempre desejaste.

Lisboa, 5 de Setembro de 2003

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