14/07/2010

Não me esqueço de ti ...


Não me esqueço de ti. Tanto tempo passou
e eu aqui esperando em silêncio.
Não me esqueço de todos os que me desejaram
e não pressenti.
Esquecer o que não se conheceu não é normal
normal é esquecer o que se conheceu e nos faz sofrer.

Deixei passar o tempo? Não foi esquecimento
foi falta de lembrança.
Pode ser essa a minha esperança.
Palavra maldita para os poetas.
Pasolini transformou-a numa palavra ausente
mas a esperança ainda espreita por uma frincha aberta no presente.

Vivo das vozes que me ouvem
mesmo quando duvido que me oiçam.
E deixo no vazio o apelo de palavras que agonizam.
Claro que não me serve de consolo o silêncio eterno.
Pode ser que me responda uma voz qualquer
mesmo que não seja aquela por cuja resposta desespero.

E assim passo o dia-a-dia na procura de quem me responda,
uma resposta audível, brutal ou segredada,
tanto dá mas que me faça companhia.
Para que se possa tornar ausente preciso que se apresente
e que vozes livres clamem:
ausente, ausente, ausente…

Por fim ficarei silente no sítio de onde nunca parti
mas não me esqueço de ti.

Lisboa, 8 de Setembro de 2003

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