26/06/2010

diálogo a sós


ainda e sempre a lembrança
do tempo dos afectos juvenis

a busca da fé e da esperança
até na hora triste de abdicar

imagem pura do lugar vazio
usurpado pelo corpo alheio

o diálogo a sós tantas vezes
maldito imposto pelo medo

solidão perversa de palavras
omitidas e silêncios severos

a lembrança do músculo teso
na esfinge do herói sonhado

mortandade de legiões crentes
tomado o destino em suas mãos

a ilusão nos rostos iluminados
cheirando em fila flores de paz

outra vez o anúncio antecipado
da tirania que a liberdade procria

e o homem na sua indiferença
cede ao medo que se anuncia

no ar ecoa a lembrança sofrida
do diálogo a sós com a morte

Lisboa, 8 de Junho de 2003

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