15/07/2007

SEM TÍTULO

Posted by PicasaMarina Edith Calvo – Italia, b.1960

“Tout le bonheur de l´homme est dans son imagination”

Sade (citado por Jorge de Sena)

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“É pequena a margem pura onde só há tristeza”

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(…)
”quando de tudo que, ao fugis, destróis,
e cujos gestos mancharás de lágrimas,
se os não sujares traindo o teu desejo,
fechando os olhos pr´a me ver a mim;
- aceito alegremente que se perca,
se não transforme, não consuma ou cale.” (…)

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(…)
quantas palavras, confissões não ditas,
olhares furtivos do prazer cansado,
para o futuro me não fossem a
suspeitar de perder-te por,
ah não sei como!, haver errado um gesto” (…)

Jorge de Sena

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Olá, Olá, como vai? Quase bem, do tropel dos meus
sonhos mudaram alguns rostos, medos alguns menos,
do perfil devolvido pelo espelho o perfume que o meu
corpo a mim me oferece é o mesmo.

Olá, Olá, então e o menino? Bem, Bem melhor, já
lê tão bem! Quase tudo entende mesmo o que lhe
escondo parece não lhe escapar. Cresceu quase um
palmo e as saudades de mais de alguns dias longe
me esmagam … mas ninguém percebe…ainda conti-
nuam a pensar que lhe não ligo importância.

Olá, Olá, e a menina que deseja? Com 35 anos,
menina! Parece uma sina, não me largam estes
imaginários desejos de afirmar a luta por subjugar
a aparência, a imagem de mim. Tão Tonta! Não
me resguardo o suficiente do julgamento alheio.
Preciso de me não deixar absorver tanto pelos ou-
tros. Ser mais eu. Menos chapéu-de-chuva. Mas
não me acharão “eles” assim, apesar da aparência, de-
masiado intolerante?

Olá, Olá, e os medos? Alguns menos, alguns novos!

Olá, Olá, e os sonhos? Alguns mudaram, mas persiste
a ideia fixa de viver, apesar de tudo, de bem comigo.
Difícil? É bem verdade!
E os espelhos? Reflectem uma mesma luz no rosto.
E o rosto? O mesmo! O corpo? O mesmo perfume.
Desenvolto? Quase tanto como da última vez
que foi corpo para si. Não creio que o menino
alguma vez tenha sido sacrificado. E isso que
importância teria?

Olá, Olá, e a mão? Ferrugenta ou não? Curva
no limbo da folha. A cor? Difícil são as exi-
gências do tempo, cumprições de mais!


[Poema sem título nem data mas, certamente, escrito em 1980, provavelmente, durante o verão ou mesmo antes. Deste poema existe uma variante na qual integro mesmo versos de um poema de Jorge de Sena. É de todos os Primeiros Poemas um dos mais antigos e o que mais me surpreendeu, a mim próprio, por ser mais longo do que o costume e assumir-se como uma descrição/reflexão de perfil psicológico a propósito de uma relação acabada, ora do meu lado, ora do “outro” lado. Em epígrafe, de forma expressa e excessiva, excertos de poemas de Jorge de Sena.]

1 comentário:

hfm disse...

Gostei de ler este poema, esta forma diferente de dizer, este arrojo.