21/03/2008

DIA MUNDIAL DA POESIA (II)


Trata-se de uma edição digital blingue, português/espanhol, da obra de Fernando Pessoa, de autoria de Sebastián Santisi, um extraordinário empreendimento individual para a divulgação da poesia de Fernando Pessoa no universo dos falantes da língua de Cervantes.

Aqui deixo, em português e espanhol, um dos poemas mais conhecidos de Fernando Pessoa,
O Mostrengo:

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
A roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar, E disse:
.
«Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
.
«El-Rei D. João Segundo!»
«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou três vezes,
.
Três vezes rodou imundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
.
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-Rei D. João Segundo!»
Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
.
E disse no fim de tremer três vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
.
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa in Mensagem
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El monstruo(*) que está en el fin del mar
En la noche de brea se yerguió a volar;
La rueda de la nave voló tres veces,
Voló tres veces chillando, Y dijo:
.
«¿Quién es el que osó entrar
En mis cavernas que no desvelo,
Mis techos negros del fin del mundo?»
Y el hombre del timón dijo, temblando:
.
«¡El-Rey(*) D. João Segundo!»
«¿De quién son las velas donde me rozo?
De quién son las quillas que veo y oigo?»
Dijo el monstruo, y rodó tres veces,
.
Tres veces rodó inmundo y grueso.
«¿Quién puede ver lo que sólo yo puedo,
Que moro donde nunca nadie me vio
Y escurro los miedos del mar sin fondo?»
.
Y el hombre del timón tembló, y dijo:
«¡El-Rey D. João Segundo!»
Tres veces del timón las manos erguió,
Tres veces al timón las reprendió,
.
Y dijo al final de temblar tres veces:
«Aqui al timón soy más de lo que yo:
Soy un pueblo que quiere el mar que es tuyo;
Y más que el monstruo, que mi alma le teme
.
Y rueda en las tinieblas del fin del mundo,
Manda la voluntad, que me ata al timón, ¡
De El-Rey D. João Segundo!»

Fernando Pessoa, in Mensagem

1 comentário:

Anónimo disse...
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