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Gonzaga: podias não ter dito mais nada,
não ter escrito senão insuportáveis versos
de um árcade pedante, numa língua bífida
para o coloquial e o latim às avessas.
Mas uma vez disseste:
“eu tenho um coração maior que o mundo”.
Pouco importa em que circunstância o disseste:
Um coração maior que o mundo –
uma das mais raras coisas
que um poeta disse.
Talvez que a tenhas copiado
de algum velho clássico. Mas como
a tu disseste, Gonzaga! Por certo
que o teu coração era maior que o mundo:
nem pátrias nem Marílias te bastavam.
(Ainda que em Moçambique, como Rimbaud na Etiópia,
engordasses depois vendendo escravos).
Madison, 13/4/1968
Jorge de Sena.
[In “Poesia III” – “Estados Unidos da América” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (23).]
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