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E como eu quis que nada fosse disto,
como eu acreditei, amei, vivi.
Num equilíbrio entre o medo e a morte,
entre o desejo e o riso, entre o horror
e o pasmo. Entre a humildade e a pressa ansiosa.
Entre uma solidão e muitas outras
de que ela se fazia menos só.
Como eu acreditei, como vivi.
E como só de amor me consumi,
tentando penetrar, tocar, sentir,
quanto de mim ou de outrem era um vácuo
espesso e opaco, sem amor ou vida.
Oh insensata busca. Ingenuidade.
E a dor insuportável de perdê-la.
1960
Jorge de Sena
[In “Poesia III” – “Brasil” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (9)]
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