Georges Brassens sur la tombe de Paul Fort
Como se fosse homem de ficha e método, registo
no apêndice bibliográfico de uma história literária,
a data da morte de Paul Fort, que, subitamente,
recordo não haver consignado ao pé da outra data
em que nasceu (de resto, foi uma surpresa, porque
era como se ele tivesse já morrido há muito).
Si tous les gars du monde … - esse poema era belo,
não o tenho comigo.
Príncipe dos Poetas, escreveu baladas,
numerosas baladas, e morrreu agora
com quase noventa anos. Os seus pares na idade,
Claudel e Gide, Francis Jammes e Proust,
Jarry, Philippe, Valéry, Péguy,
Colette e Romain Rolland, mais Ana Brancovan,
condessa de Noailles, haviam já morrido,
ora velhos, ora de estarem vivos, ou de angústia,
na guerra – juste guerre … ó Péguy ! …-,
ou na paz – que paz ? …Deixemos isso.
Apenas registei. Mas não dissera ele,
na Balada da Noite, que nós contemplássemos …
O quê ? Laisse penser tes sens (sabias disso,
ó Fernando Pessoa ?). Éprends-toi de toi-même,
épars dans cette vie. Esparso nesta vida –
como este « príncipe » sabia coisas !
Morreu. Não de arranhado em espinhos de roseira,
como convém a Rilkes. Só de velho,
e um pouco de esquecido, esparso, épris
de soi-même. As histórias literárias
- sem o relerem, ou não seriam histórias literárias -
dar-lhe-ão cada vez menos linhas,
resumidas das linhas das outras.
E eu, que sou poeta – ó Príncipe ! – traí-te,
como se com método e com ficha, registando apenas,
no apêndice de uma delas, que morreste.
27/4/1960
Jorge de Sena
Como se fosse homem de ficha e método, registo
no apêndice bibliográfico de uma história literária,
a data da morte de Paul Fort, que, subitamente,
recordo não haver consignado ao pé da outra data
em que nasceu (de resto, foi uma surpresa, porque
era como se ele tivesse já morrido há muito).
Si tous les gars du monde … - esse poema era belo,
não o tenho comigo.
Príncipe dos Poetas, escreveu baladas,
numerosas baladas, e morrreu agora
com quase noventa anos. Os seus pares na idade,
Claudel e Gide, Francis Jammes e Proust,
Jarry, Philippe, Valéry, Péguy,
Colette e Romain Rolland, mais Ana Brancovan,
condessa de Noailles, haviam já morrido,
ora velhos, ora de estarem vivos, ou de angústia,
na guerra – juste guerre … ó Péguy ! …-,
ou na paz – que paz ? …Deixemos isso.
Apenas registei. Mas não dissera ele,
na Balada da Noite, que nós contemplássemos …
O quê ? Laisse penser tes sens (sabias disso,
ó Fernando Pessoa ?). Éprends-toi de toi-même,
épars dans cette vie. Esparso nesta vida –
como este « príncipe » sabia coisas !
Morreu. Não de arranhado em espinhos de roseira,
como convém a Rilkes. Só de velho,
e um pouco de esquecido, esparso, épris
de soi-même. As histórias literárias
- sem o relerem, ou não seriam histórias literárias -
dar-lhe-ão cada vez menos linhas,
resumidas das linhas das outras.
E eu, que sou poeta – ó Príncipe ! – traí-te,
como se com método e com ficha, registando apenas,
no apêndice de uma delas, que morreste.
27/4/1960
Jorge de Sena
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[In “Poesia III” – “Brasil” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (8)]
[Da edição de onde transcrevi este poema, à unha, exercício que muito prazer me deu, consta a data de 27/4/1940, obviamente, uma gralha.]
[Da edição de onde transcrevi este poema, à unha, exercício que muito prazer me deu, consta a data de 27/4/1940, obviamente, uma gralha.]
1 comentário:
Já aqui não vinha há uns tempos pois estou, finalmente, a ter férias. Não posso falar de nenhum em especial pois foi um prazer percorrer este conjunto de "ainda não lidos". Obrigada. Um abraço.
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